Lyngurium: Xixi com Poderes Mágicos - Pedra Mítica do Lince


Imagine você um Xixi tão poderoso a ponto de curar doenças e inclusive mudar o sexo (gênero) de uma pessoa. Essa era uma característica sobrenatural atribuída à pedra que se formava a partir da urina do Lince, um felino selvagem que supostamente odiava a raça humana.


A primeira menção de uma pedra preciosa chamada Lyngurium veio das obras de Teofrasto de Eresus (filósofo da Grécia Antiga, sucessor de Aristóteles, 372 a.C - 287 a.C). De acordo com Teofrasto (que é muitas vezes creditado como sendo o primeiro a lapidar um trabalho sobre as propriedades das pedras preciosas e as teorias sobre a sua formação), Lyngurium era nada mais do que uma gema que acreditavam se formar a partir da urina solidificada de um lince, sendo as melhores, aquelas provenientes de machos selvagens.

O Lince, descrito em antigos Bestiários Manuscritos do século 13. Mostra a urina transformada em Lyngurium. 

As obras de Teofrasto foram escritas no terceiro ou quarto século antes de Cristo, e seu trabalho foi repetidamente citado na Renascença. Incontáveis lapidários e joalheiros medievais ​​descreveram a pedra lince apesar do fato de que ninguém nunca realmente viu uma. Encontrar uma pedra lince pode ser muito difícil, pois o lince irá enterrá-lo, como fazem os gatos, parentes próximos da família Felidae, que enterram sua urina e fezes na areia.

A pedra é de uma cor amarelo claro (amarelo âmbar) e tem atraentes propriedades quase magnéticos. Mas Lyngurium funciona também em objetos não metálicos, e é especificamente citado agindo sobre materiais vegetais como palha e folhas.


Havia também rumores de ter propriedades curativas. Supostamente, se a pedra fosse colocada em um líquido por algum tempo e a pessoa doente consumisse esse líquido, ela poderia ser curada de pedras na bexiga, icterícia, entre outras doenças. Alguns afirmavam ainda que uma pessoa só precisava olhar para a pedra para ser curada.

Escritos posteriores acrescentaram reivindicações ainda mais ultrajantes para a lista de poderes mágicos da pedra, com uma que sugeria que a pedra tinha o poder de mudar o sexo de uma pessoa inteiramente. No momento em que a pedra foi aparecendo em textos medievais, poderia proteger uma casa e uma pessoa do mal e era particularmente eficaz contra problemas digestivos.


Qualquer um que tivesse a sorte de encontrar a pedra poderia mergulhá-la em leite de vaca ou de ovelhas durante 15 dias. Mas se alguém tentasse usá-la para uma doença diferente daquelas que era popularmente conhecidas, o crânio da pessoa poderia se quebrar.

Lyngurium é uma das "Pedras de Gênero" (ideia medieval de que os minerais possuíam sexo masculino ou feminino) de Teofrasto e ele diz que as pedras do sexo masculino (produzidas por linces machos) são muito mais escuras e eficientes do que as pedras do sexo feminino, um tema comum na ciência dos minerais antigamente.

Embora outros escritores como Plínio condenassem a ideia da existência de tal pedra, suas vozes estavam em minoria. Escritores medievais contribuíram para a mitologia da pedra, dizendo que o lince possuía uma espécie de rancor contra a humanidade e armazenava as pedras preciosas em sua garganta para evitar que o homem as descobrisse e as usasse a seu favor.


O significado e a origem da palavra parece ter sido confundido no início com uma origem geográfica, quer na Ligúria, no norte da Itália, ou em alguma parte da Sicília que produzia âmbar. A versão do nome, aparentemente foi inventada por Flavius ​​Josephus, como "ligure", e sob este nome a Vulgata Bíblia latina descreveu a sétima pedra no peitoral sacerdotal no Livro do Êxodo, chamado também de âmbar ou jacinth em traduções modernas, embora no século 19 a tradução dinamarquesa usasse "lyncuren". Estudos posteriores parecem sugerir que Lyngurium, na verdade, era âmbar solidificado, petrificado ou fossilizado, obtidos a partir da costa do mar báltico ou de formas variantes de turmalina.

Pedras Âmbar do Mar Báltico
Turmalina Amarela
O Lyngurium foi descartado da literatura científica a partir do século 17, restando apenas os registros de Teofrasto, como arquivo histórico e resistindo apenas como uma lenda boba de nossos ancestrais. Porém, ainda existe a crença nos poderes míticos de rochas como o âmbar e a turmalina, sendo frequentemente ligados ao sistema nervoso, imunológico e digestivo. Pessoas afirmam ter sentido seus efeitos, mas a ciência se recusa a aceitar como verdade.

Na região onde eu cresci, no Brasil, quando eu era pequena, lembro-me de ir à casa de pessoas que tinham em suas estantes pedras de uma cor branca meio amarelada que eles pegavam nos antigos garimpos. Quando alguém ficava doente, a pessoa raspava a pedra para extrair um pó, que misturava em água ou outro líquido e dava para o doente beber, acreditando que tinha poderes de cura. Não sei se realmente as pessoas se curavam ou se a coisa agia como efeito placebo, mas muitas curas foram encontradas através das antigas crenças dos índios em plantas com poderes curativos. Resta talvez descobrirmos ou desmascararmos o real poder dos minerais nessa dança cósmica.


Também existe a crença nos poderes medicinais da urina, uma pseudociência chamada Urinoterapia ou Uroterapia, que afirma os poderes de cura através da ingestão de xixi ou massagem/contato da pele com a urina.

E então, qual dessas terapias mágicas mais te chamou a atenção? Sinceramente, ainda não estou preparada para curas alternativas, já que entre beber xixi do Lince ou beber xixi humano, não sei qual das opções é mais nojenta.

Fontes e Agradecimentos:
Annals of Science, Volume 58, Issue 4, 2001. "Theophrastus on Lyngurium: Medieval and Early Modern Lore from the Classical Lapidary Tradition".

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