Chico Picadinho, Francisco da Costa Rocha - Serial Killers Brasil #02, Crime


Preso até hoje em um Manicômio em Taubaté, esse cara tocou o terror no Brasil, nos anos 1960 e 1970, esquartejando duas mulheres. Conheça a história completa e analise por si só este caso sinistro.

Esta Matéria em Vídeo


Infância, Adolescência e Origens


Francisco da Costa Rocha, o Chico Picadinho, nasceu em 27 de abril de 1942, em Vila Velha. Seu pai era exportador de café, poderoso e bem-sucedido, tinha um casamento “oficial” e seis filhos, mas caiu de amores pela extrovertida e alegre Nancy, mãe de Chico, mas era um homem rigoroso, enérgico, violento e extremamente ciumento. As idas e vindas do pai eram constantes e os sentimentos do menino pelo pai oscilavam entre a adoração por aquela figura poderosa e elegante e raiva pelo abandono e rejeição. Quando tinha um aninho de idade sua mãe ficou doente (ela estava com Tuberculose, mas foi internada em um sanatório em Minas Gerais) e Francisco foi morar com um casal de empregados do pai em um sitio bastante isolado. Cercado de animais que nunca tinha visto, entre jiboias, porcos, gatos e galinhas, em um ambiente que depois descreveria com “sinistro”, ele era chamado de “endiabrado e encapetado” e vivia pelas matas.


Sempre curioso e inquieto, matava gatos para testar suas sete vidas e observava os resultados, ora enforcando-os em árvores, ora afogando-os em vasos sanitários. Apanhava bastante e uma vez quase perdeu a mão, ao ser punido com lambadas dadas com as costas de uma faca que o acertou sem querer com o lado errado. Quando Chico completou 6 anos de idade, dona Nancy voltou para buscá-lo, mas ele mal se lembrava dela, e foram para Vitória (ES).

Francisco sofreu de enurese noturna até os 5 ou 6 anos. Seu nariz sangrava constantemente, sofria de asma e de pavor noturno. A mãe trabalhava como cabeleireira e costureira, mas sua inclinação em se envolver com homens casados e bem de vida perturbava bastante o filho, que se distanciava cada vez mais.

No colégio de padres iniciou seus estudos, mas era briguento, desatento, dispersivo, irrequieto, indisciplinado e displicente. Detestava estudar e tinha medo dos padres. Certa vez presenciou um outro menino no colo do padre e, sem entender, tinha receio de que o mesmo acontecesse com ele. Logo mudou para o Colégio Americano, mas suas relações interpessoais pioraram muito quando ele se declarou ateu, por influência de um tio. Perdeu a namorada, ganhou olhares desconfiados e antes de terminar o ano, abandonou os estudos.

Dona Nancy não sabia como controlá-lo. Era mais amiga do que mãe. Francisco vivia então muito tempo na rua, aprontando, pondo fogo em coisas, invocando o diabo, pesquisando sobre vampiros, perseguindo assombrações, mergulhando no mar bravio, enfim, matando a curiosidade de sua fértil imaginação. Na adolescência, durante as “brincadeiras de menino”, muitas vezes foi subjugado para troca de carinhos sexuais e, entre pauladas e pedradas, acabou se acostumando.

Tentou arrumar trabalho e até conseguiu alguns, mas não permanecia muito tempo em um emprego. A vida livre, na rua, era muito mais interessante. A ‘juventude transviada” corria solta e Francisco logo formou com os amigos o Clube Sentapua. Juntos, entravam de penetras em casamentos da alta sociedade, pegavam carros “emprestados” para rodar sem rumo e depois os devolvia, entre outras aventuras. Também tentou ser marinheiro, paraquedista, mecânico de aviação, polícia militar e vendedor, sem conseguir sucesso em nenhum deles.


Já tinha começado a viver uma vida boêmia, quando conseguiu o trabalho de corretor de imóveis. Com horário flexível, bom salário e liberdade, divertia-se a valer, frequentava teatros, lia Nietzsche e Dostoiévski, experimentava todo tipo de droga e participava de orgias sexuais e tinha prazer com a agressividade. Nunca quis firmar compromisso com ninguém.

Dividia um apartamento no oitavo andar de um prédio na rua Aurora com um amigo chamado Caio, médico-cirurgião da Aeronáutica, que estava enfrentando grande instabilidade no casamento e usava a quitinete de vez em quando. Com esse amigo, Francisco foi assistir ao filme O Colecionador, história de um rapaz solitário que, em sua obsessão por uma mulher, a aprisiona no porão de sua casa e a sevicia até a morte. O filme rendeu longas conversas e análises entre os dois. As noitadas começavam no Bar Pilão e acabavam no Ponto Chic, no largo Paissandu, onde muitos boêmios de São Paulo terminam a noite até hoje. Os amigos de Francisco já tinham comentado com ele sobre uma boêmia de nome Margareth Suida. Ela era austríaca, natural de Kroterneuburg, bailarina, separada e atendia como massagista para melhorar o orçamento. Tinha 38 anos de idade. Segundo alguns frequentadores do bar, ela era boa de copo e de papo.

Primeiro Crime


Numa terça-feira, 2 de agosto de 1966, Francisco conheceu a tão falada Margareth. Ela era uma mulher bonita e após passarem por alguns restaurantes e bares, Francisco a convidou para conhecer seu apartamento, na intenção de transar com ela. Pela quantidade de cigarros que foram encontrados ali, consumidos por duas pessoas, horas se passaram. A relação sexual que tiveram deve ter seguido o padrão de violência que Francisco descreveria como sendo habitual com “certos tipos de mulher”. Margareth apresentava várias mordidas perto dos seios e do pescoço, além de um hematoma no nariz. 

Em algum momento daquela noite, Francisco sugeriu que fizessem sexo anal. A moça não gostou da ideia e aparentemente fez brincadeiras insinuando que ele fosse homossexual, o que ele não gostou nem um pouco e começou a estrangulá-la com a mão, e terminou com o cinto. Após vê-la morta, pensou que deveria sumir com o corpo. O impulso seguinte foi leva-la até o banheiro, mas não conseguia encontrar a chave, que escondia cada vez que levava uma mulher em casa com medo de ser roubado. Depressa, sentindo-se oprimido, desmontou as dobradiças com uma chave de fenda e as deixou juntamente com os pinos em cima da mesa de centro e deitou de barriga para cima. Havia marcar de sangue que saíam do quarto em direção ao banheiro, o que indica que ele começou a desmembrá-la ainda sobre o carpete do quarto. Usou os primeiros instrumentos que viu pela frente: gilete, tesoura e faca. Começou a cortar os seios, depois foi tirando os músculos e cortando as articulações, a fim de que o corpo ficasse menor para escondê-lo. Ele tinha medo das consequências. Demorou de 3 a 4 horas até terminar o esquartejamento e coloca-la dentro de uma sacola.


Naquele dia, ele e Caio sairiam para jantar e quando este chegou, Francisco lhe contou que havia matado alguém. Não contou como, nem porque, mas disse que o corpo ainda estava no apartamento. Pediu um tempo para Caio para que pudesse avisar sua mãe e contratar um advogado. Caio, com pena do amigo, emprestou-lhe dinheiro. De fato, viajou à procura de sua mãe, mas como não a encontrou, apenas deixou um recado com uma amiga de que algo muito grave havia acontecido. Caio ficou sem saber o que fazer, porque com certeza seu nome seria envolvido e sua mulher descobriria suas saídas extraconjugais. Resolveu então que ele mesmo contaria tudo à sua esposa e juntos denunciaram o crime. Ao retornar, Francisco foi preso e não reagiu. Questionado sobre a motivação do crime, Chico disse que a bailarina lembrava sua mãe e que desejava dar vazão a raiva que sentia da própria vida. Ele contou que perdeu o controle, ao ser rejeitado e ridicularizado ao tentar fazer sexo anal com Margareth. Por esse crime, foi condenado a 20 anos e meio de prisão. Durante a perícia, os investigadores notaram que no punho direito da vítima havia uma atadura que cobria uma recente tentativa de suicídio, ainda com a sutura.

2º Crime e Transferência para o Manicômio

Durante os 8 anos em que esteve preso, ele cursou o supletivo de 1º e 2º grau, lia muito e até se casou. Em junho de 1974, ele recebeu liberdade condicional por bom comportamento, foi morar com sua esposa e foi trabalhar na Editora Abril, como vendedor. Mas gradativamente foi voltando à vida boêmia, embora Catarina, sua esposa, lhe pedisse para endireitar. Eles tiveram uma filha em 1975, mas acabaram se separando antes mesmo que ela nascesse. Teve um outro filho com outra mulher, mas não assumiu. Acabou mudando de emprego e parceiras sexuais frequentemente, voltou a consumir drogas e percebeu seu crescente retorno à violência. Em setembro de 1976, conheceu a empregada doméstica Rosimeire, de 20 anos e saíram juntos. Durante o sexo, Francisco ficou violento e ela desmaiou. Quando ele acordou, ele tentava morder sua “veia do pescoço”. Ela fugiu e ao ser atendida no pronto socorro, ficou constatada agressão no útero por objeto perfuro-cortante desconhecido, tentativa de estrangulamento e várias lesões e mordidas pelo corpo. Ela estava grávida de três meses e perdeu o bebê. O Curta-Metragem “O Lado Escuro da Vida”, de Johel Alvez Birght, conta a história dela. 


Um mês depois, ele ainda respondia processo pela agressão a Rosimeire, quando conheceu Ângela de Souza da Silva, de 34 anos. Ela era prostituta e acusada de vários roubos, conhecida por muitos codinomes. Para Francisco, apresentou-se como Suely. Passaram a noite bebendo e às 7 horas da manhã, Francisco a levou até seu apartamento, onde morava de favor com seu amigo Joaquim, que já tinha saído para trabalhar.


Francisco agiu então com os mesmos requintes de sadismo e crueldade do seu crime anterior. Ângela foi morta por estrangulamento. Da mesma forma que fizera no crime anterior, arrastou o corpo até o banheiro, munido de uma faca de cozinha, um canivete e um serrote e começou a retalhar o cadáver, jogando na descarga as partes moles. Porém o vaso sanitário entupiu. Francisco então começou a serrar o corpo para torna-lo menor e facilitar o transporte. Também arrancou os olhos e retalhou sua boca. Depois de 3 ou 4 horas, lavou as peças no chuveiro e separou em sacos, colocando-os em uma mala verde e em uma sacola xadrez, na sacada do apartamento. Joaquim, o amigo chegou e encontrou um bilhete de Francisco dizendo que iria viajar. Mas ao entrar no banheiro encontrou tudo molhado, inclusive a enceradeira. Quando foi colocar a enceradeira para secar na varanda encontrou as “malas” de Chico. Abriu para ver o que era e pensou que fossem peças de manequim, mas logo lembrou-se do primeiro crime do amigo e chamou a polícia. Nesse meio tempo, Chico procurava um carro que pudesse pegar emprestado e livrar-se do corpo no Rio Tietê.


Sem sucesso retornou ao apartamento, mas quando viu o carro do IML, fugiu. Perambulou por vários locais no Rio de Janeiro até encontrar uma gruta, onde passou muitos dias sobrevivendo de mariscos. Logo que ficou sem dinheiro procurou um antigo amigo, também bandido, o Baianinho Charlatão, com a intenção de pedir dinheiro para sair do país. Ao se encontrar com ele foi preso. Nunca disseram que o tal amigo era informante da polícia. Preso, julgado e condenado, recebeu o diagnóstico de “personalidade psicopática perversa e amoral, desajustada do convívio social e com elevado potencial criminoso”. Na época, a exibição pela imprensa das fotos de suas vítimas cortadas em pedaços sensibilizou bastante a opinião pública, fazendo com que o criminoso fosse condenado a 30 anos de prisão.


Em 1994, Chico Picadinho foi internado no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico Arnaldo Amado Ferreira, na cidade de Taubaté, após passar por um exame de sanidade mental, e ser considerado perigosíssimo, e continua preso até hoje. No final de 2015, o advogado dele tentou um pedido de liberdade, após 50 anos de prisão, mas foi negado. A curiosidade jurídica, neste caso, é que é a Justiça Civil, e não a Criminal, que está impedindo a libertação de Chico Picadinho, portanto não se encaixa na lei dos 30 anos.


Na época dos crimes Chico era estudante de Direito e até hoje passa seus dias praticando pintura. Segundo ele sua inspiração para os crimes foi o romance Crime e Castigo de Dostoiévsky, a quem chamou de Deus numa entrevista. Também é um grande fã de Kafka.

Redes Sociais


Fontes e agradecimentos
Wikipedia

Comentários

Postar um comentário